quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Diferentes

Diferentes

Por Júlio Bonrruquer Neto


Se conheceram por acaso. Ele escritor, um faz tudo como muito desses que existem por aí. Pulava de emprego em emprego como quem troca de camisa. Ela advogada, dedicada e inteligente como se exige dos bons advogados. Lutava pelos seus sonhos custe o que custar. Não tinham muito em comum além de morar no mesmo bairro. Bairro bacana, mas com o tipo de gente que não conhece os vizinhos. Eram quase vizinhos. Se conheceram na internet, de madrugada, por acaso. Ela procurava um amigo antigo, ele simplesmente não tinha nada melhor pra fazer.


Ele era bobo, apaixonado por tudo. Um desses românticos inveterados. Ela era interessante, não gostava de romance e morria de amores pelo gato e o gato não gostava dele. Ele gostava de bossa e de um sambinha no final de semana. Ela de bons livros, café bombom e full jazz. Realmente não tinham nada em comum. Ele falava durante os filmes e ela odiava o fato de ele a ficar encarando. Ele achava inevitável, ela irritação. Ele é sempre feliz, ela andava triste e o coitado achava que podia ajudá-la. Que o que ela precisava era de um pouco de amor e de riso. E isso ele tinha.


Ela achava que ele guardava algum grande mistério. Ele só queria estar com ela. E mesmo sendo pessoas muito diferentes, resolveram se beijar. Ninguém ainda sabe porque, se foi o café, se foi o cheiro de chuva daquela madrugada, se foi a carência dos dois. O fato é que se beijaram, mesmo não devendo e foi um beijo bom. Era o fim de tudo, estavam condenados. Não havia espaço na vida dela para uma coisa como ele.


Ele era teimoso, persistente pra alguns, teimoso pra ele e mesmo sabendo de tudo isso ele apareceu de novo. Ficavam horas juntos, sempre no final da noite, namorando dentro do carro. Ela tinha medo da palavra namoro, ele não ligava. Ela nunca tinha beijado com trilha sonora, ele tinha mil canções pra cantar. Ela era linda, ele sabia admirar. Ele dizia, ela negava. Linda. Fizeram alguns planos e cumpriram alguns deles. Foram ao cinema, tomaram café. Café bombom.


Ela ficou doente, ele preocupou. Se viram só um pouquinho. Ele assistiu televisão, ela se deitou. E a noite foi vazia sem ouvir sua voz, o telefone não tocou. Leu Drummond e dormiu cedinho. Era cedinho, ela ligou. Ele atendeu. Ela sem jeito, ele feliz. E se fez dia na noite dele e o sol surgiu. Ela tinha que pensar, ele aceitou. E foram trabalhar, ele não agüentou. Voltou pra casa e rimou esse texto. Texto sem final como a história que viveram.

2 Comentários:

Às 5 de dezembro de 2007 às 13:37 , Blogger Mysterious Ways disse...

Ah! História sem final não vale !

 
Às 13 de janeiro de 2012 às 14:14 , Anonymous Gabi disse...

Pena que ela era advogada... ;)

Viajo nesses teus posts!

Bjs.

 

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