Paradoxo
Saindo da cidade me deparo com a seguinte placa: "O Restaurante Peixe Frito apresenta seu cardápio de sushi e sashimi"
Alguma coisa está errada, vai entender!
Ps1 - Deveria trocar o nome do restaurante para "Peixe Frito, ou não".
e já não cabem mais em mim. Por isso encho o peito grito aos quatro ventos tudo o que tenho a lhe falar.
Saindo da cidade me deparo com a seguinte placa: "O Restaurante Peixe Frito apresenta seu cardápio de sushi e sashimi"
Já que ninguém é de ferro, eu também tirei uns dias para ir a praia com a família. Como era de se esperar, foi uma comédia. A briga começa na hora de arrumar as coisas no carro - nunca capaz de levar tudo o que era previsto- e sua consequente negociação: "eu deixo e prancha se você não levar a mãquina de costura" ou "se esse edredon não for você não leva a tv". Uma vez vencida esta fase, agora está tudo bem. Inclusive tem sol.
Algumas coisas simplesmente transcendem o tempo, a razão ou qualquer outra medida lógica.
Quando amanhece com sol o dia é mais leve. De um jeito ou de outro, até os problemas percebem e a vida parece sorrir. Quando amanhece com sol eu levanto disposto à tudo e nenhuma das coisas parece difícil demais. É hora de revirar as gavetas do peito e tirar o pó sobre as estantes. Peito aberto, olhar distante. Quando amanhece com sol eu sou uma pessoa melhor. E você?
Diferentes
Por Júlio Bonrruquer Neto
Se conheceram por acaso. Ele escritor, um faz tudo como muito desses que existem por aí. Pulava de emprego em emprego como quem troca de camisa. Ela advogada, dedicada e inteligente como se exige dos bons advogados. Lutava pelos seus sonhos custe o que custar. Não tinham muito em comum além de morar no mesmo bairro. Bairro bacana, mas com o tipo de gente que não conhece os vizinhos. Eram quase vizinhos. Se conheceram na internet, de madrugada, por acaso. Ela procurava um amigo antigo, ele simplesmente não tinha nada melhor pra fazer.
Ele era bobo, apaixonado por tudo. Um desses românticos inveterados. Ela era interessante, não gostava de romance e morria de amores pelo gato e o gato não gostava dele. Ele gostava de bossa e de um sambinha no final de semana. Ela de bons livros, café bombom e full jazz. Realmente não tinham nada
Ela achava que ele guardava algum grande mistério. Ele só queria estar com ela. E mesmo sendo pessoas muito diferentes, resolveram se beijar. Ninguém ainda sabe porque, se foi o café, se foi o cheiro de chuva daquela madrugada, se foi a carência dos dois. O fato é que se beijaram, mesmo não devendo e foi um beijo bom. Era o fim de tudo, estavam condenados. Não havia espaço na vida dela para uma coisa como ele.
Ele era teimoso, persistente pra alguns, teimoso pra ele e mesmo sabendo de tudo isso ele apareceu de novo. Ficavam horas juntos, sempre no final da noite, namorando dentro do carro. Ela tinha medo da palavra namoro, ele não ligava. Ela nunca tinha beijado com trilha sonora, ele tinha mil canções pra cantar. Ela era linda, ele sabia admirar. Ele dizia, ela negava. Linda. Fizeram alguns planos e cumpriram alguns deles. Foram ao cinema, tomaram café. Café bombom.
Doação
Por Júlio Bonrruquer Neto
Nunca mais! Disse ela tentando afastá-lo. Nunca mais faça isso dizia enquanto tentava desembaraçá-lo de seu corpo. Justificava que nunca poderia retribuir e que não era justo que fosse desse jeito. Racional como sempre. Não sabe ela que essa é a magia da coisa toda, doação. o Amor não é equação matemática nem lei física. Não existe sinal de igual nem ação e reação. O ponto de partida é doar-se para o outro, entregar sua existência. Por um segundo, alguns minutos, uma vida inteira, tanto faz.
Marizote
Por Júlio Bonrruquer Neto
Tudo bem que já não fosse a tia gorda. Tudo bem que não usasse tailleur cinza. Tudo bem até que em vez de maquilagem às vezes usasse olheiras. Mas aqueles malditos all star coloridos, não. Não era possível que aquilo fosse a nova professora de língua.
Se ainda fossem novos ou limpos tudo bem. Mas aquele maldito par de tênis não me saía da cabeça. Eu gostava do jeito que falava. Como todas as coisas sérias do mundo pareciam simples e objetivas quando ela sorria. Eu gostava dos poemas no final de cada aula e eu gostava de poder ajudar. Eu era representante de classe, sabe? Daqueles pau-pra-toda-obra. Mas eu não podia conceber o maldito par de all star amarelo.
All star amarelo não combina com norma padrão, preconceito lingüístico, como fazer. All star amarelo não combina com alguém que passou do segundo grau. A maquilagem cai muito bem com um par de brincos e a norma culta. Um par de saltos ficaria perfeito em sua complexidade verbal. Ao invés disso, os livros de poemas dentro da bolsa e o maldito all star.
A questão é que essa mulher nos conquistou. Ao contrário de outros que tentaram nos comprar com aparências e cargos importantes essa mulher nos conquistou assim mesmo de cabelos desarrumados, calças largas e all star amarelo. Não era possível. Preconceito lingüístico, a desconstrução.
Eu achava divertido quando ela dava suas broncas e achava terno quando pedia minha ajuda. Eu parecia mais perto do paraíso em poder ajudar. Entre as muitas coisas que essa mulher me ensinou, ela me ensinou a gostar dos all star estampados, do cabelo esvoaçante e das mil idéias que carrega na cabeça.
Deserto
Por Júlio Bonrruquer Neto
Não consigo mais escrever
todo encanto se foi.
A intermitente veia verbal
do oceano turvo que sinto
nem sei como
simplesmente secou toda tinta que escrevo.
Engasgou em mim
toda fúria dessa garganta-caneta
Paixão
Por Júlio Bonrruquer Neto
Então é isso a paixão?
Que corrói e corrompe,
Ilude e destrói.
Que alegra e apaixona,
Faz sorrir e chorar.
Que movimenta montanhas
E gera revoluções.
Então é isso a paixão?
Que inspira e incita,
Que é bom e tanto dói.
Então é isso a paixão?
Que é ferro e é fogo,
Abrigo e descanso,
Que é pesadelo e desejo
E faz tão mal.
Que do amor, do teu corpo
Traz sempre o meu bem.
Então é isso, paixão
Poemafim
Por Júlio Bonrruquer Neto
Esse era pra ser um poema assim,
Meio sem assunto, um poema afim.
Poderia ser escrito por qualquer um,
por você ou por mim.
Mas e aí? Não tem sentido?
Calma, tem sim!
É como eu já disse, é um poema afim.
Que rima com jasmim,
que a gente colhe no jardim
pra entregar pr`aquela menina assim
Aquela menina que a gente é afim!
Ta bom assim?
Num poema afim,
o fim é mais ou menos assim!
Maldição
Por Júlio Bonrruquer Neto
Malditas linhas que escrevo!
Me fazem lembrar você.
Essa coisa de indecisão,
de não saber o que se quer.
Essa coisa que arde
É saudade e só!
Neguei teu corpo e a lembrança
Sujei teu nome, te fiz chorar.
E no final, as minhas noites
Eram fogo e desejo
Eram saudade e só!